LULA DA SILVA e o trunfo da experiência
Experiência de LULA transforma confronto em diálogo e reforça sua liderança política
Por José Sócrates, Primeiro Ministro de Portugal de 2005 a 2011, ICL Notícias, 27/10/2025
A reunião com Trump representa, sem dúvida, uma vitória política de Lula da Silva. A firmeza do presidente levou os Estados Unidos à mesa das negociações, e o tempo mostrou que os caprichos tarifários do presidente americano são um caminho sem saída e de efeitos contraproducentes.
No final, Trump cedeu, esqueceu Bolsonaro e comportou-se finalmente como um adulto político, que faz da política externa do seu país um terreno de defesa de interesses, e não um espaço para devaneios ideológicos. Assunto arrumado: a imposição virou diálogo e a bravata foi substituída pelo respeito mútuo.
Mas a fotografia de Lula com Trump vai além disso. Ela tem um forte impacto político, tanto para fora quanto para dentro do Brasil. Para fora, para o mundo que observa, significa a afirmação do país como potência irradiante e influente nos assuntos globais. Para dentro, assinala o triunfo da soberania nacional e a desgraça da direita: sem candidato, sem discurso, sem programa – e sem saber o que fazer.
Não, não foi apenas Lula que ganhou, mas a direita que perdeu. Desafiada à honra nacional, a direita faltou à chamada — pensou no mal do governo, não no bem do país. Erro de cálculo: os dirigentes mais inteligentes já haviam compreendido que o discurso de extrema-direita lhes retira o centro político; os mais renitentes só agora compreendem o erro da colagem a Bolsonaro. A direita vai precisar de uma reinvenção — e, quanto mais demorarem, pior.
No entanto, o aspecto mais interessante deste episódio talvez seja colocar o debate público brasileiro no terreno mais favorável a Lula da Silva — a experiência política como ativo incontornável. Não é preciso ser muito inteligente para perceber que, em tempos conturbados como os que vivemos, os eleitores procuram a experiência como requisito de segurança. Este folhetim do tarifaço deslocou ligeiramente o terreno da próxima batalha eleitoral em favor de Lula — vai ser sobre experiência, e aí ninguém vence Lula da Silva.
Este ponto parece-me decisivo. Durante muito tempo a direita tinha a expetativa de que a idade poderia comprometer a recandidatura de Lula; agora compreendeu: a idade não será vista como condição de fragilidade, mas como sinal de experiência.
Num mundo cuja ordem está em mudança acelerada — (“ordem” significa instituições e normas que regem as relações entre os países) — os eleitores procuram a experiência que ofereça segurança e competência para enfrentar os novos desafios. A experiência é a calma dos veteranos. A experiência é a força tranquila. A experiência é Lula da Silva — e isso conta muito em tempos eleitorais.
Por José Sócrates, Primeiro Ministro de Portugal de 2005 a 2011, ICL Notícias, 27/10/2025
