Declaração do presidente de que “pintou um clima” entre ele e refugiadas venezuelanas de 14 e 15 anos abriu crise na campanha

 

A campanha de Jair Bolsonaro escalou a primeira-dama, Michelle, para tentar consertar o estrago provocado pela declaração que o presidente deu a um podcast a respeito de jovens venezuelanas que conheceu na comunidade de São Sebastião, no Distrito Federal.

Michelle está tentando agendar uma reunião às pressas com lideranças locais para tirar uma foto e tentar mostrar que o governo se preocupa com a situação das meninas.

Nas palavras de integrantes do núcleo político da campanha, a ideia é enviar Michelle para “estender a mão” às moças, numa tentativa de diminuir o efeito desastroso provocado pelas declarações do presidente.

Contudo, ainda não há confirmação, nem da campanha nem das lideranças de São Sebastião, de que a visita vá de fato ocorrer.

Em entrevista ao canal do YouTube Paparazzo Rubro-Negro nesta sexta-feira, o Bolsonaro disse que, durante um passeio de moto, avistou meninas de 14 e 15 anos e que “pintou um clima” antes de pedir para ir à casa delas.

Sugeriu, ainda, que elas estavam “arrumadas para ganhar a vida”. Na verdade, as jovens participavam de uma ação social para refugiados que oferece curso de estética, maquiagem e corte de cabelo. A visita ocorreu em abril de 2021.

O vídeo que mostra Bolsonaro dando essa declaração viralizou e provocou indignação nas redes sociais, tornando-se o assunto mais comentado do Twitter.

Hashtags como “Bolsonaro pedófilo” se multiplicaram ao longo da tarde e na noite de sábado, levando o presidente a fazer uma live no início da madrugada deste domingo só para se explicar. Bolsonaro acusou os adversários de deturparem o trecho da entrevista.

A pedofilia se tornou um tema nesta campanha depois que a ex-ministra e senadora eleita pelo Distrito Federal, Damares Alves, disse num culto em Goiás ter tido notícia de casos de exploração sexual de crianças na Ilha de Marajó, no Pará, em que os dentes de meninos e meninas seriam retirados para facilitar o sexo oral. Afirmou ainda que as crianças ingeriam comida pastosa para facilitar o sexo anal. Não, há, porém, qualquer registro de denúncias feitas pela ministra sobre casos do tipo a nenhuma autoridade competente.

Enquanto o presidente ia para as redes, nos bastidores seus aliados tentaram, primeiro, fazer com que ele fosse ao projeto social pessoalmente para conversar com as lideranças locais.

Depois, disseminou-se a ideia de levar as meninas da comunidade para fazer uma foto com Bolsonaro e Michelle no Alvorada. Ao final, na manhã deste domingo, prevaleceu o plano de levar a primeira-dama até São Sebastião.

Por Malu Gaspar / O Globo