Bloco informal de partidos negocia indicações no Porto de Santos, Funasa e no Ministério da Ciência e Tecnologia; Planalto analisa situação
BRASÍLIA – O Centrão vai cobrar uma fatura cada vez mais alta do presidente Jair Bolsonaro. Agora, o bloco informal de partidos se debruça sobre o mapa de indicações acertadas com o ministro Onyx Lorenzoni no tempo em que o atual titular da Cidadania ainda era chefe da Casa Civil. Entraram nas negociações, por exemplo, os comandos do Porto de Santos, da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e até do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
Na tentativa de construir uma base parlamentar no Congresso, o Palácio do Planalto promete destravar nomeações que não saíram do papel. Depois da crise que se agravou com a saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça, o governo aposta no Centrão para barrar pedidos de impeachment contra Bolsonaro.
Como mostrou o Estado, o presidente decidiu manter o comando da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) com o DEM, mas dividirá as diretorias da estatal entre outros partidos do Centrão. A empresa é uma das mais cobiçadas no Nordeste, principalmente em um ano eleitoral como este, por ser responsável pela realização de obras de infraestrutura em regiões carentes.
Depois de tentar isolar o DEM do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), com quem vive às turras, Bolsonaro tenta construir pontes com o partido. Nesta segunda-feira, 27, Maia disse que, antes de falar em impeachment, é preciso ter “cautela e equilíbrio”. Maia fez questão de destacar que “neste momento” a Câmara está focada na discussão sobre o enfrentamento do novo coronavírus.
“Quando você trata de um tema como impeachment, eu sou o juiz. É uma questão que a gente tem de tomar cuidado porque o açodamento e a pressa, nesses temas, vão ajudar a que a questão do coronavírus, que já é gravíssima, ganhe contornos ainda mais graves na vida da sociedade”, afirmou o presidente da Câmara.
Para o presidente do Solidariedade, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SP), não é hora de entrar no governo. “Me ofereceram o comando do Porto de Santos, mas eu não vou aceitar”, disse Paulinho.
Nessa disputa por cargos, a cadeira de Marcos Pontes, ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, também entrou no jogo. O Estado apurou que, além de partidos como o PSD, presidido por Gilberto Kassab, a base evangélica de Bolsonaro também gostaria de indicar um nome para resolver pendências de rádios e TV. Kassab foi ministro da pasta na gestão de Michel Temer.
Atualmente, tem um aliado na Casa Civil do governo de João Doria, em São Paulo, mas está afastado do tucano.
Marcos Pontes negou que esteja de saída das Comunicações. “Não acredite em qualquer coisa que você esteja lendo ou vendo por aí. Existem pessoas com a intenção de criar intrigas e desestabilizar uns aos outros. Estou 100% #FechadoComBolsonaro”, escreveu ele, ao mencionar a série de “cotoveladas espaciais”.
Emendas e o ‘banco de talentos’ para segundo e terceiro escalões
Em fevereiro do ano passado, quando ainda era titular da Casa Civil, Onyx Lorenzoni se reuniu com líderes da Câmara para tratar de emendas parlamentares e cargos. A promessa era de que as funções seriam distribuídas de acordo com as bancadas estaduais.
Nos meses seguintes, passou a circular pelo Congresso uma lista, conhecida como “banco de talentos”, com vagas a serem preenchidas no segundo e terceiro escalões. “Tucanaram o apadrinhamento”, ironizou à época o senador Major Olímpio (PSÇ-SP), numa referência ao “banco de talentos”.
Na prática, o preenchimento dos cargos era intermediado pela deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), então líder do governo no Congresso e hoje uma das principais adversárias de Bolsonaro, tanto que apresentou um pedido de impeachment contra ele.
Agora, com Onyx no Ministério da Cidadania, Bolsonaro tenta retomar algumas dessas promessas como moeda de troca para a construção de uma base de sustentação no Congresso, blindando-se de eventual processo para tirá-lo do cargo.
A distribuição de superintendências do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), da Funasa, do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) também foi retomada.
Sem apoio no Congresso, Bolsonaro mudou o modelo de articulação política adotado até aqui e passou a afagar o Centrão, a quem sempre carimbou como “velha política”, em troca de votos. O mapa do “toma lá, dá cá” ainda não está totalmente fechado, mas as negociações avançaram bastante.
O PP do senador Ciro Nogueira e do deputado Arthur Lira (AL), por exemplo, ficará agora com o comando do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dncos) e a presidência do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), além de uma diretoria da Codevasf.
Na outra ponta, o PL de Valdemar Costa Neto, por sua vez, terá o controle do Banco do Nordeste e da Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária, cargo que formula estratégias de combate ao coronavírus. Já o Republicanos do vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira, deverá ocupar uma secretaria no Ministério do Desenvolvimento Regional.
Por Estadão