O novo capítulo da queda de braço entre o Congresso e o Palácio do Planalto promete dar pano para manga. Tudo piorou depois que o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, disse que o governo não vai se submeter à “chantagem” do Congresso, orientou o presidente Jair Bolsonaro a convocar o “povo às ruas” e definiu o acordo sobre Orçamento impositivo como uma “rendição”. Na contraofensiva, deputados e senadores prometem criar muitas dificuldades para o Planalto. Uma das estratégias será rejeitar Medidas Provisórias (MPs) nas comissões ou simplesmente deixá-las caducar.
O movimento já está em curso, mas ganhará força. Com isso, o Congresso quer passar um “recado” a Bolsonaro de que a caneta presidencial tem limites porque ele não pode administrar por MPs “nem por WhatsApp”, como diz o governador de São Paulo, João Doria.
Além disso, na Câmara, integrantes do bloco conhecido como Centrão pretendem dar sinal verde somente a propostas que tenham “identidade” com projetos defendidos pelo grupo, como a reforma tributária.
Aparentemente, trata-se apenas de mais uma ameaça. O problema é que há uma escalada de tensão no relacionamento entre o Executivo e o Legislativo.
Heleno externou uma opinião compartilhada por muitos no Planalto e também na Esplanada dos Ministérios. O próprio Bolsonaro, que foi deputado federal por sete mandatos e passou por vários partidos, não se cansa de fazer críticas ao Congresso. Repete à exaustão que querem transformá-lo em uma “rainha da Inglaterra”, que reina, mas não governa.
Diante de tantos problemas e dissabores, o ministro da Economia, Paulo Guedes, já ameaçou entregar o cargo. Antes que a notícia se espalhasse, no entanto, Bolsonaro criou uma vacina e disse que “P.G.” – como apelidou o guardião da chave do cofre – ficará até o último dia do governo. Na prática, porém, o “Posto Ipiranga” de Bolsonaro está sendo queimado. Um perigo na Praça dos Três Poderes.
Guedes recebe cada vez mais críticas do Congresso. O último imbróglio diz respeito ao acordo referente à repartição do dinheiro do Orçamento, que vai definir quanto será destinado a emendas parlamentares. O acerto foi fechado pelo ministro da Secretaria de Governo, Luiz Fernando Ramos, mas passou pelo crivo do titular da Economia. Depois de tudo acertado com os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), Bolsonaro disse que não era bem assim.
Para Maia e Alcolumbre, o maior culpado pela nova crise é Guedes, que ignorou o trato com o Congresso e se uniu a Heleno, virando representante da nova “ala ideológica” do primeiro escalão. “É normal que o Congresso queira entrar no Orçamento, mas ‘peraí’. Não precisa pisar no nosso pé”, avisou o ministro ontem. “Tem um Orçamento de R$ 1,5 trilhão. Por que vamos brigar por conta de 10 bilhões, R$ 15 bilhões ou 20 bilhões?”
As cenas do próximo capítulo só serão conhecidas após o reinado de Momo. Por enquanto, deputados, senadores e até ministros do Supremo Tribunal Federal vão produzindo, nos bastidores, a lista “Top 10” de frases e atos desastrosos do governo. Pior de tudo é que o comentário de Guedes sobre a viagem de empregadas domésticas à Disney virou fantasia de carnaval. Seis dias depois da fatídica referência, o ministro voltou a pedir desculpas, embora tenha dito que suas afirmações foram tiradas do contexto para semear discórdia . Mas, nesta “festa danada”, será que o Congresso ainda vai “pisar no pé” de Guedes?