Erasmo Damiani, gerente das categorias de base do Atlético-MG, assistia ao jogo contra o Andirá, do Acre, acompanhado do coordenador técnico, Gustavo Fragoso. Desfalcado por um surto de covid antes do confronto em Lins, pela Copa São Paulo 2022, o time atleticano até teve chances de marcar no primeiro tempo, mas parou no goleiro Tomate. As boas defesas geraram comentários positivos sobre o jogador entre os dois dirigentes do Galo, mas a certeza de que valeria a pena convidá-lo para um teste no clube, em março, veio após uma cena marcante.

A expressão atônita ao ser substituído antes de uma cobrança de pênalti e o choro no banco de reservas transformaram Tomate, de 18 anos, no personagem mais popular do torneio. Ao mesmo tempo, o episódio revelou um traço da personalidade que deu a confiança para que ao menos uma oportunidade fosse dada em nome do Atlético.

“Quando ele é substituído e passa no nosso banco, o Cristian, o Vinicius e Gabriel o abraçaram. Ali, é aquela história: é mais do que futebol”, conta Damiani, notando a empatia nos reservas do Galo.

O episódio transmitido pela TV foi a combinação para atingir um dos principais objetivos de clubes e jogadores que disputam a Copinha: visibilidade. Veio também uma onda de apoio nas redes sociais, que trouxe mais de 400 mil seguidores no Instagram. Comentários até de jogadores como o atacante Richarlison. O celular não suportou o volume de mensagens.

“Não é que a gente está fazendo isso por questão de mídia. Ele chamou atenção pelas defesas. Claro que depois do acontecido, o choro dele, isso tudo mexeu com a gente também. Ele mostrou uma personalidade interessante”, acrescentou o gerente da base do Atlético-MG.

Depois do jogo, os dirigentes atleticanos fizeram contato com os cartolas do Andirá que vieram para a Copinha e revelaram o interesse em observar o goleiro mais de perto. O anúncio nos perfis oficiais aconteceu ainda no dia da partida, por um temor de que outros clubes tivessem a mesma iniciativa.

Tomate não foi titular na estreia do Andirá na Copinha. Medindo 1,85m, começou jogando diante do Atlético-MG por ser mais alto que o concorrente, Riquelme, cuja altura é 1,75m. Segundo o técnico Kinho Brito, o combinado era que Tomate fosse substituído por Carlos no intervalo. Mas, pela boa atuação no primeiro tempo, ele decidiu mantê-lo por mais tempo. Aí veio o pênalti. Do banco, Tomate viu Carlos levar o gol.

Em março, o goleiro do time do Acre terá entre uma e duas semanas — período no qual os jogadores geralmente são avaliados quando são chamados para testes no CT do Galo — para mostrar serviço. Amanhã (8), está previsto um encontro de Tomate com os goleiros do Atlético, e ele já vai ganhar uma camisa do clube mineiro. Os profissionais da base do Galo já sabem que a exposição pode trazer uma pressão maior ao goleiro, mas esperam que até março o assunto já esfrie.

O que pauta o Galo e outros grandes em competições como a Copinha é a busca por talentos. Para a edição deste ano, foram escalados 13 observadores, cuja escala de jogos é feita cruzando a tabela com critérios geográficos.

O convite para testes é feito pelo desejo de acompanhar o jogador no cotidiano, em uma rotina de treino na qual talvez ele não tenha passado, até por vir de um clube sem a mesma estrutura.

Tomate é um goleiro da geração 2003. Nessa mesma faixa, o Atlético-MG tem, por exemplo, Gabriel Átila, que já foi convocado para as seleções de base.

Ao longo dos dias no CT, os preparadores que trabalharão com ele vão verificar em qual nível está, se apresenta projeção de crescimento técnico ou se é mais do mesmo. Tomate vai precisar se diferenciar para que não se torne apenas um fenômeno nas redes sociais.

Uol Esportes