Desde a redemocratização, Minas Gerais tem servido como um termômetro para a eleição presidencial e, ao mesmo tempo, um estado pêndulo. Quem vence no Estado acaba levando a Presidência da República.
O Amazonas também tem apontado o vencedor, mas Minas ostenta uma proporção mais semelhante à votação nacional e é demograficamente relevante, sendo o segundo maior colégio eleitoral, atrás apenas de São Paulo. Se o Estado tivesse entregue uma expressiva maioria de seus votos ao seu ex-governador Aécio Neves (PSDB), em 2014, a história daquela eleição poderia ter sido outra.
A diversidade de seus 853 municípios o torna uma espécie de amostra social e econômica do Brasil e, consequentemente, um retrato de seu comportamento eleitoral. Do Vale do Jequitinhonha, passando pelo Vale do Aço, pela Grande BH, o Sul de Minas e o Triângulo Mineiro, há áreas pobres e ricas, urbanas e rurais, industrializadas e voltadas ao agronegócio e à agricultura familiar, com regiões com características semelhantes às macrorregiões do país.
Isso torna a montagem de palanques para conquistar os corações e mentes dos mineiros um dos principais desafios dos pré-candidatos ao Palácio do Planalto. Pesou para Fernando Collor de Mello ter o mineiro Itamar Franco na chapa, da mesma forma que Lula contou com a ajuda do mineiro José Alencar. Hoje, Lula (PT) discute aliança com o ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD), enquanto o governador Romeu Zema (Novo) segue ao lado de Bolsonaro (PL).
Pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta sexta (13), aponta o ex-presidente com 44% de intenção de votos em Minas Gerais e o atual presidente, 28%.
No levantamento anterior, de março, os índices eram de 46% a 21%. Apesar de não ser possível comparar dado a entrada e saída de candidatos, a diferença entre ambos passou de 25 para 16 pontos em dois meses. Enquanto isso, Zema tem 41% e Kalil, 30%.
Esse padrão de ser um termômetro da campanha nacional se repetirá em outubro deste ano? Difícil dizer.
Situação semelhante à de Minas Gerais era a de Ohio, Estado-pêndulo para as eleições presidenciais nos Estados Unidos, ora apontando para um lado, ora apontando para outro. De 1964 a 2016, quem levava no Estado ganhava a Casa Branca. O folclore durou até 2020, quando Joe Biden perdeu de Donald Trump por lá, mas venceu, de forma consistente, a eleição nacional.
Abaixo, arredondados, os votos válidos nacionais e em Minas Gerais nos últimos 33 anos:
1989: Collor vs Lula Em 1989, considerando resultados nacionais, Fernando Collor de Mello foi eleito com 53% dos votos válidos, enquanto Lula teve 47%. Em Minas Gerais, Collor teve 55% a 44%, vencendo no segundo turno.
1994: FHC vs Lula Em 1994, considerando resultados nacionais, Fernando Henrique Cardoso foi eleito com 55% dos votos válidos, enquanto Lula teve 40%. Em Minas Gerais, FHC teve 65% a 22%, vencendo no primeiro turno.
1998: FHC vs Lula Em 1998, considerando resultados nacionais, Fernando Henrique Cardoso foi eleito com 53% dos votos válidos, enquanto Lula teve 32%. Em Minas Gerais, FHC teve 56% a 28%, vencendo no primeiro turno.
2002: Lula vs Serra Em 2002, considerando resultados nacionais, Lula foi eleito com 61% dos votos válidos, enquanto José Serra teve 39%. Em Minas Gerais, Lula teve 66% a 33%, vencendo no segundo turno.
2006: Lula vs Alckmin Em 2006, considerando resultados nacionais, Lula foi eleito com 61% dos votos válidos, enquanto Geraldo Alckmin teve 39%. Em Minas Gerais, Lula teve 65% a 35%, vencendo no segundo turno.
2010: Dilma vs Serra Em 2010, considerando resultados nacionais, Dilma Rousseff foi eleita com 56% dos votos válidos, enquanto José Serra teve 44%. Em Minas Gerais, Dilma teve 58% a 42%, vencendo no segundo turno.
2014: Dilma vs Aécio Em 2014, considerando resultados nacionais, Dilma Rousseff foi eleita com 52% dos votos válidos, enquanto Aécio Neves teve 48%. Em Minas Gerais, Dilma teve 52% a 48%, vencendo no segundo turno.
2018: Bolsonaro vs Haddad Em 2018, considerando resultados nacionais, Jair Bolsonaro foi eleito com 55% dos votos válidos, enquanto Fernando Haddad teve 45%. Em Minas Gerais, Bolsonaro teve 58% a 42%, vencendo no segundo turno.
Leonardo Sakamoto / Uol