Como o novo
coronavírus age no corpo das pessoas
Caminho do vírus da covid-19 no organismo é alvo de diversos estudos; órgãos além dos pulmões podem sofrer danos indiretos
Texto: Priscila Mengue
29 de abril de 2020 | 18h00
O rápido avanço da pandemia da covid-19 tem sido um desafio para cientistas ao redor do mundo, que precisam desvendar como age o novo coronavírus a fim de combatê-lo. Entender o comportamento do vírus é o que garantirá maior eficiência no diagnóstico, na prevenção, no tratamento e na descoberta devacinas.
Até o momento, os estudos apontam que o vírus entra no organismo pelas mucosas, especialmente pelos olhos, nariz e boca. “Uma vez dentro do corpo, ele vai replicar em algumas células dessas mucosas”, diz a professora Luciana Costa, diretora adjunta do Instituto de Microbiologia da UFRJ.
As principais células atacadas pelo vírus para se multiplicar são as do sistema respiratório, especialmente as nasais e pulmonares. Se a carga viral de contágio for alta, há a possibilidade de o vírus já chegar nos pulmões mesmo antes de começar a se replicar. “Vai ter mais chance de partículas conseguirem ultrapassar as barreiras naturais, físicas, que nós temos no trato respiratório, que seriam as células ciliares, o muco. Essas barreiras já existem no corpo humano para evitar que esses invasores entrem nos pulmões a partir do trato respiratório superior”, explica Luciana.
No pulmão, a multiplicação ocorre principalmente em um tipo de célula (pneumócitos do tipo 2), na qual acontece uma “replicação viral intensa”, como ressalta a professora. A partir dessa etapa, contudo, as hipóteses científicas são mais incertas. “Se o vírus sai dali, seja associado a células do sistema imune, seja sendo deglutido, e se ele vai chegar a outros locais do corpo, a gente não sabe.”
A especialista aponta que uma possível chegada do vírus em órgãos como fígado, rins, baço, coração e intestino depende muito da presença dele no sangue, o que ainda não foi comprovado. O dano em outros tecidos detectado até o momento pode decorrer, por exemplo, de respostas imunológicas à presença do coronavírus. Isto é, esses danos não são provocados diretamente pelo vírus, mas são consequência do que ele provoca no organismo.
Luciana Costa exemplifica que, se o vírus chegasse ao intestino por deglutição, ele teria a camada de proteção destruída pelo PH ácido do estômago e não conseguiria se replicar. “O vírus é excretado, isso a gente sabe, mas aparentemente não é infeccioso. Então pode ser que o vírus chegue lá por deglutição, mas não que ele se replique no intestino. A gente sabe que tem uma série de outras consequências que a replicação viral e a resposta a isso causam, como a coagulação, a grande acumulação de processos inflamatórios, e a combinação desses fatores pode causar danos nos outros órgãos.”